13 julho 2009

O código de ética não-verbal dos nova-iorquinos - parte 3

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Dando prosseguimento ao tópico "código de ética não-verbal dos nova-iorquinos", vamos a novas práticas e comportamentos que percebemos nas ruas de Nova York.

- Cuidado com a contramão
No livro "A Sabedoria das Multidões", o autor James Surowiecki apresenta o movimento dos pedestres como uma forma de inteligência coletiva. Como tantos pedestres conseguem se deslocar sem ficar se esbarrando o tempo todo?
De fato, uma volta pelas ruas de Manhattan é um exemplo claro disto: mesmo nas ruas mais movimentadas, há um fluxo bastante harmônico e inconsciente entre os pedestre.
No entanto, o turista costuma ser um corpo estranho neste processo, já que quer olhar e tirar foto de tudo, e como na música de Chico Buarque, "atrapalhando o tráfego".
Tudo bem... os turistas tem todo o direito de curtir a cidade em seu próprio ritmo, no entanto, jamais ande na contramão.
E não estamos falando da contramão dos carros, como pegar uma rua no sentido contrário, mas sim da contramão dos pedestres.
Em algumas calçadas, como da Times Square ou perto da Macy's, não há uma ordem muito evidente, mas em outras, como na região da Park Avenue ou da Grand Central, é muito fácil de perceber que o pedestre que "vai" deve ficar do lado direito, enquanto que o pedestre que "vem" do lado esquerdo, simulando as faixas dos automóveis. O melhor, para não esbarrar nas pessoas do sentido contrário, é seguir junto com a multidão e na sua "própria faixa".
Mas em nenhum outro local isto é tão importante quando nas entradas do metrô. Descer ou subir as escadas do lado errado, isto é, do lado esquerdo, pode causar um tumulto, atravancar o caminho, e até fazer com que você ouça alguns palavrões. Sempre, mas sempre mesmo, desça ou suba do metrô pelo lado direito.
Além disto, nas escadas rolantes, quem pretende ficar parado e subir tranquilamente deve ficar do lado direito, e quem vai subir andando ou correndo deve ir pelo lado esquerdo, ou seja, só ultrapasse pela esquerda.


- Contadores de histórias
Você já deve ter assistido a "Forrest Gump: o contador de histórias". O fato é que quase todo nova-iorquino tem um pouco de Forrest Gump em si. Basta dar uma brecha que eles começam a tagarelar e contar a vida deles, mesmo que você não esteja entendendo uma palavra do que eles estão falando (os mendigos desdentados e com perdigotos são os que mais gostam de tagarelar).
Acredito que tenha algo a ver com a solidão da metrópole, todo mundo um pouco isolado uns dos outros, longe da família, desesperados para ter alguém com quem conversar.
Mas não se iluda de que você travará um diálogo com eles; tais pessoas não querem saber da sua história, querem apenas contar as deles. Assim, depois de matraquearem por uns 20 minutos, eles simplesmente dão tchau e vão embora, sem darem trégua para que você diga uma palavra.
Se você não gosta muito de trololó, a maneira mais fácil de se livrar deles é o clássico "No english" (Não [falo] inglês).
Eu sou um dos que até gosta de escutá-los, pois, de vez em quando, surgem algumas histórias bem pitorescas, afinal de contas, tudo é possível em Nova York.

- Amigos, mas não tanto
Um fenômeno bastante curioso e desconcertante entre os nova-iorquinos são os encontros de amigos.
Quando todos são amigos, tudo bem, mas quando você é convidado por alguém do grupo para um encontro - jantar, almoço, passeio -, você não fará parte do grupo.
A lógica mais ou menos assim: você é amigo de um deles, não dos outros. Então, você conversará com o seu amigo, seu amigo conversará com você e com os outros, e os outros conversão entre eles. É quase como se fossem dois (ou mais) encontros diferentes.
Como no Brasil estamos acostumados com muvucas, todo o mundo conversando com todo o mundo, há um certo estranhamento quando este tipo de situação ocorre.
Não estou dizendo que isto acontecerá todas as vezes, mas já vimos isto se repetir algumas vezes para perceber que se trata de um padrão, tanto que, quando algum amigo nosso americano diz que estará trazendo um outro amigo, já sabemos de antemão que o clima ficará um pouco esquisito.
Mas talvez você dê sorte, caia num grupo com espírito tupiniquim e se sinta como se estivesse no Brasil...

- Quem tem boca, vai a Roma
Não tenha vergonha de perguntar aos transeuntes as direções, caso você esteja perdido. Normalmente, os americanos costumam ser bastante solícitos e o ajudarão a se localizar, se souberem lhe orrientar, obviamente. Alguns, inclusive, quando percebem que você está perdido, se aproximam e perguntam se precisa de ajuda.
Via de regra, com exceção do atendimento ao público em lojas e orgãos públicos, o nova-iorquino é bastante educado e ficará contente em lhe dar uma mão.

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3 comentários:

  1. Seus posts são o máximo! Mato as saudades desta maravilhosa cidade e ainda dou umas boas risadas com o que vc escreve...
    Obrigada por todas as dicas...

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  2. Kkkkk estes posts são simplesmente perfeitos!!! A atitude dos new yorkers é exatamente assim, sem tirar nem pôr... post muito útil para os turistas de primeira viagem, e para quem pretende morar lá. A falta de noção do espaço que ocupam no mundo é hilaria: uma vez uma mulher sentou-se ao meu lado e simplesmente apoiou as sacolas dela no meu colo!! Haha. Aos novatos: NY é maravilhosa, perfeita e maluca; se joguem.

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  3. Isso de ser isolado pelo grupo de amigos do seu amigo é bem comum aqui no Brasil, viu? Pelo menos no nordeste. Já vivenciei isso. Sei como é chato para quem é o convidado, mas também confesso que não gosto de interagir quando faço parte do grupo e um terceiro desconhecido é convidado. Já ouvi falar que esse clima de interação total é mais coisa pra carioca mesmo.

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