Não é de hoje que conhecemos o
Couchsurfing (em português,
surfar no sofá), provavelmente a maior rede de hospitalidade do mundo contemporâneo.
Minha conta foi criada em 2007 e, desde então, pudemos participar de vários encontros, tanto em Nova York quanto em Buenos Aires, com viajantes dos quatro cantos do planeta: pessoas interessantes, com muito o que contar, e também pessoas estranhas, com estilos de vida mais alternativos do que imaginávamos existir.
Por isto, estávamos bastante empolgados quando decidimos, pela primeira vez, hospedarmo-nos na casa de desconhecidos durante nossa viagem pela Europa.
Para muitos, isto pode ser inconcebível:
"como alguém tem coragem de dormir no sofá de alguém que nunca viu antes?"
Na verdade, já havíamos feito algo parecido antes, quando nos hospedamos na casa de um casal que não conhecíamos, em Foz do Iguaçu, mas que nos recebeu muitíssimo bem. E ainda não existia couchsurfing nesta época...
Da vez em que tentamos encontrar, pelo couchsurfing, um lugar para ficarmos em Montevideo, não havia dado muito certo, mas pensamos que podia ser uma certa desconfiança latino-americana, por isto estávamos confiantes que na Europa as coisas seriam diferentes, com um povo já habituado a esta prática.
Em tese, o Couchsurfing é a oportunidade para ficar na casa de locais e vivenciar uma experiência diferente das dos turistas, que se refugiam em hotéis e só conhecem as zonas turísticas das cidades.
Como funciona o Couchsurfing?
Basicamente, o Couchsurfing é uma rede social, não muito diferente do Facebook ou do Orkut. Você criar uma conta e preenche as informações do seu perfil. Há grupos de discussões e você adiciona seus amigos.
O destaque é para a solicitação dos sofás (
couch request). Quando você está indo para algum país ou cidade, há um campo de busca, onde você seleciona o destino, quantas pessoas ficarão hospedadas, e aparece uma listagem com os anfitriões disponíveis para hospedá-lo; quanto maior a cidade, maior o número de anfitriões.
Aparentemente, tudo muito simples.
Depois, inicia a etapa de garimpar alguém que se enquadre no seu perfil, se é fumante ou não, se tem um sofá, cama ou quarto extra para recebê-lo, se tem interesses semelhantes aos seus, e se estará disponível no período de sua viagem.
É neste momento em que você solicita o sofá, apresentando-se, indicando as datas em que estará lá e aguarda a resposta do anfitrião.
Se receber um "sim", ótimo, você tem onde ficar; se receber um "não", é hora de procurar outra pessoa e reiniciar todo o processo.
Qual são os problemas do couchsurfing?
Os problemas começam logo que você resolve procurar um anfitrião.
1 - muitos pedem para você enviar uma mensagem personalizada na hora solicitar um sofá. Isto não é nenhum drama quando se envia solicitações para uma ou duas pessoas, mas se você tiver de solicitar sofás para umas 30, haja criatividade!
2 - o índice de respostas é baixo, menos de 50% das pessoas respondem às solicitações, seja para aceitá-lo ou não na casa delas. E a maioria esmagadora dirá "não", com uma lista imensas de justificativas: estarão viajando, já estão recebendo alguém, um parente estará lá, acabaram de ter um bebê, estão tentando ter um bebê, estão se mudando, etc., etc., etc... E estas justificativas não tem muita cara de ser personalizadas.
Você levará mais portadas nas fuças do que esperaria para um site de hospitalidade, o raro é encontrar as portas abertas.
3 - muitos anfitriões pedem que as solicitações de sofá sejam feitas, no máximo, com 2 semanas de antecedência. Quer dizer, se você não conseguir um anfitrião, terá poucos dias para correr atrás de um hotel, que provavelmente já terá preços mais caros em períodos de alta temporada.
4 - anfitriões homens podem pôr observações nos perfis deles que só aceitam mulheres, em alguns casos, dizem que podem até compartilhar a cama deles. Eu não chamaria trocar hospedagem por sexo de hospitalidade.
5 - outros anfitriões só recebem norte-americanos ou europeus. A vida dos latino-americanos, africanos e povos do Oriente Médio não é nada fácil, até mesmo para um site com a proposta tão altruísta quanto este.
6 - a comunicação não é muito fácil através do couchsurfing. Às vezes, você acaba perdendo um anfitrião pelo simples fato que a interface do site não colabora.
Para a nossa viagem, havíamos solicitado anfitriões na Espanha, na Itália e na França, contatamos no total umas 50 pessoas e apenas uma, que morava a vários quilômetros de Milão, aceitou nos hospedar. Isto porque entramos em contato apenas com membros cujo status indicava "definitivamente" (
definitely) quando se tratava da disponibilidade para hospedar alguém.
Infelizmente, acabamos cortando Milão do nosso roteiro, então, todas as nossas hospedagens foram em hotéis mesmo.
Quais são as vantagens do Couchsurfing?
Como eu disse anteriormente, se você for norte-americano ou europeu, provavelmente tudo deve ser bem mais fácil na hora de conseguir um anfitrião, mas, se você não foi agraciado em seu local de nascimento, o Couchsurfing também pode ter alguma serventia.
1 - conhecer pessoas de várias partes do mundo. Através do couchsurfing, é possível organizar encontros com viajantes que estejam em sua cidade, ou com moradores da cidade para a qual você está viajando. Mesmo que você não consiga economizar em hospedagem, mesmo assim é possível conhecer os locais e descobrir o que eles fazem para se divertir.
2 - receber alguém em sua casa. É dando que se recebe? Às vezes, você tem de dar antes de receber. Quem sabe você não recebe alguém em sua casa que não possa lhe retribuir o favor um dia? Mas também não conte muito com isto.
Nunca hospedamos ninguém porque, em 25 metros quadrados, se entrar mais alguém aqui, nós é que teremos de ir para um hotel.
3 - também é uma ótima maneira para pôr em dia um idioma estrangeiro. Não é todos os dias que podemos conversar naquela língua esdrúxula que insistimos em aprender. Inglês é a língua franca, mas se você quiser praticar italiano, espanhol, francês, ou até russo, sérvio ou mandarim, é só ver quem está por perto e dar um "oi".
4 - esta é uma ótima fonte de informações para quem estiver viajando. Nos tópicos dos grupos, discute-se restaurantes, lojas, bares, casas noturnas e atrações turísticas. É mais uma fonte para quem está pesquisando o que fazer no seu destino.
Conclusão
Talvez, no começo, o Couchsurfing tenha conseguido cumprir melhor sua tarefa de ser uma rede de hospitalidade global.
No entanto, na medida em que cresceu e que mais pessoas se afiliaram com o único intuito de explorar as outras, acredito que a tendência foi a de se tornar uma panelinha, onde os membros só hospedam outros membros que já conhecem.
Provavelmente, deve ser muito mais fácil conseguir hospedagem em cidades que não sejam tão turísticas, ou com povos mais receptivos. Quem mora em cidades como Paris ou Nova York não deve aguentar mais pedidos de gente querendo um sofá, ou seja, acaba ficando muito difícil conseguir um lugar para ficar de graça.
Você pode até dar sorte, realmente encontrar um anfitrião e não ter de desembolsar um centavo sequer de hospedagem. Mas a minha recomendação é que você inclua no seu orçamento o valor relativo a hotéis ou albergues, para não ser pego de surpresa e acabar ficando na rua.
Pois, mesmo que você consiga um anfitrião no couchsurfing, não existe garantia que ele o estará esperando no lugar combinado, ou que você aguente ficar na casa dele. As pessoas são imprevisíveis, lembre-se disto, e nada pior do que ter uma surpresa desagradável.
Mesmo assim, nada o impede de combinar com outros membros do couchsurfing e fazerem algo juntos, um passeio ou tomar um café. É sempre legal ter a companhia de outros viajantes e trocar algumas ideias.
E se você já teve uma boa experiência com um anfitrião no couchsurfing, compartilhe conosco!
Site oficial do Couchsurfing
http://www.couchsurfing.org/