27 maio 2009

Mensagem do leitor - Arthur Silva Junior


Estamos acostumados a receber vários e-mais por dia; a maioria é de perguntas, sugestões, preocupações sobre o blog ou o guia "Nova York para Mãos-de-Vaca". De vez em quando, alguns dos leitores, após retornarem de viagem, também nos escrevem para agradecer, compartilhar de suas experiências ou contar o que descobriram.

Mas, mês passado, recebemos uma mensagem bastante inusitada: um agradecimento bastante original e gostaríamos de compartilhá-lo com vocês.

Olá, Henry
Bom, se eu lhe desse parabéns pelo blog eu seria repetitivo.
Mas pra que inovar, se no final das contas o sucesso de seu próprio blog vem da desconstrução do novo?
Eu explico.
Nietzsche:
"Logo que, numa inovação, nos mostram alguma coisa de antigo, ficamos sossegados"
Ou seja, o "novo" assusta.
Quer algo mais assustador que viajar pra uma cidade grande sem conhecer nada nem ninguém?
Nehuma referência do que é bom ou ruim, do que é caro ou barato, sem saber onde há perigo ou diversão?
Principalmente uma cidade como NY.
Qualquer um se sente um liliputiano ao chegar a Times Square, sendo engolido por tantos prédios, luzes e multidões.
Tudo numa escala maior do que a que somos acostumados.
Seu blog então desmitifica a NY do King Kong e do Homem-Aranha.
Voltanto ao Nietzsche, o Cow-handed NY Guide "nos mostra alguma coisa de antigo".
A gente lê e aquela megalópole titânica vai ficando "antiga", familiar, cotidiana.
Eu nunca tinha visto o Homem-Aranha, o David Letterman ou o elenco de Friends comprando metrocards.
Mas ao ler o blog é melhor que isso. A gente SE VÊ comprando os metrocards.
E então viaja pra NY mais seguro.
Sem medo.
Medo não só de entrar em roubadas.
Mas medo de gastar o desenecessário ou de perder oportunidades bem compiladas por você.
Por isso Henry, mudei de idéia.
Não vou lhe dar mais parabéns.
Prefiro dizer "obrigado" pelo tempo que dedicou ao blog.
Grande abraço,
Arthur e a esposa Patrícia, publicitários mineiros.

O autor da mensagem é o Arthur Silva Junior e ele e Patrícia já devem ter passado por aqui. Estamos ansiosos para saber como foi o passeio de vocês pela Big Apple. E somos nós quem devemos agradecer aos incríveis leitores deste blog.

Abraços a todos,

Henry e Denise.


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24 maio 2009

Livin' in America - Atlantic City, um mundo de ilusões


Uma tarde de jogatina em Atlantic City ou se esbaldar num parque aquático onde Judas perdeu as botas em Long Island?

Este era o nosso dilema para o feriado do Memorial Day. A viagem a Atlantic City já estava programada há uma semana, mas o dia de calor intenso de ontem nos encheu de dúvidas.

— Ai, como eu queria uma piscina! — minha esposa repetia sob o calor de 31 graus.

Piscina ou casino? Cassino ou piscina?
Consultamos a meteorologia e vimos que hoje nem estaria tão quente, e também descobrimos que não era tão fácil de se chegar ao parque aquático quanto imaginávamos. Veredito: manter os planos iniciais - Atlantic City.
Logo descobrimos que não éramos os únicos a ter esta ideia; a rodoviária estava lotada, a fila para entrar no ônibus era um aglomerado de gente, ninguém sabia ao certo qual era a fila para que, bêbado e espertinhos passando na frente, uma zona digna de Terceiro Mundo. Nem mesmo nos EUA se pode esperar uma fila organizada...

Alguém comentou:
— Isto é coisa da crise. Antes não era assim — e realmente, excluindo os velhinhos e velhinhas, que iam a Atlantic City para gastarem suas aposentadorias, o público parecia composto de trabalhadores pobres e de jogadores "profissionais". Muitos em busca do dinheiro fácil, atrás do milagre da multiplicação dos dólares.


Três horas de viagem, após um congestionamento e uma parada para catar mais velhinhos. O ônibus nos deixou dentro do cassino e fomos lançados em meio à centenas de caça-níqueis. Trinta dólares foram comidos em questão de minutos; ganhamos outros trinta, perdemos estes trinta também.

Decidimos fazer um intervalo, ir almoçar, para depois tentarmos a sorte em outro cassino.
Sentados à mesa do restaurante, fui tomado por reflexões filosóficas: tudo na vida gira em torno de dinheiro. Estávamos numa cidade onde tudo se resumia a ganhar e, principalmente, a perder dinheiro. O dinheiro é a razão porque alguns são exaltados e outros subjugados; é motivo para um meter a arma na cabeça do outro, e talvez matá-lo depois; é fonte de brigas entre irmãos por causa da herança do pai morto; é a ruína de muitos, ou a alegria de poucos.

Dinheiro, dinheiro, dinheiro!

Demos uma volta pelas lojas do que imagino ser o Centro da cidade, fizemos uma comprinha (as promoções eram boas - "dinheiro, dinheiro, dinheiro!") e fomos para outro cassino. Perdemos vinte dólares de cara, quase num piscar de olhos.

— Estávamos com mais sorte no primeiro cassino — minha esposa disse, por isto, retornamos pra lá.
Jogamos outros vintes dólares, que igualmente desapareceram. Antes da viagem, havíamos estabelecido o limite de cem dólares para jogar e nos aproximávamos rapidamente deste valor. Começou a bater um desespero; para cada dois dólares que ganhávamos, perdíamos seis; ganhávamos um, perdíamos quatro.

No final, tornamo-nos parte deste imenso grupo de jogadores que só perdem, mas que não perdem a esperança. "Quem sabe da próxima vez? Se houver...", especulávamos, enquanto enterrávamos os nossos planos do que faríamos com a bolada que haveríamos de ganhar.

Só que havia uma pequena diferença entre a gente e alguns jogadores compulsivos: soubemos a hora de parar, pegar nossa malinha e voltar correndo pra Manhattan, onde o lema também é "dinheiro, dinheiro, dinheiro!", só que às custas de muito suor.


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